Cuidados paliativos na terceira idade: uma prática essencial

Publicada 27/11/2018

Os avanços tecnológicos fazem parte do desenvolvimento da Medicina com equipamentos que permitem diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes. Porém, principalmente em pacientes idosos, essa inovação pode não ser a melhor ferramenta no caso de doenças em fase avançada. Por isso, é importante considerar os cuidados paliativos na terceira idade.

É preciso que os profissionais de saúde ofereçam um atendimento mais humanizado para esses pacientes em situações de enfermidades sem possibilidade de reversão — como demências, câncer, insuficiência cardíaca e outras doenças crônico-degenerativas. A ideia é reduzir o sofrimento e trazer conforto físico e psicológico.

Neste artigo, vamos explicar o que são os cuidados paliativos, por que é fundamental essa abordagem na terceira idade, além da questão da bioética nesse processo. Confira!

O que são cuidados paliativos?
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os cuidados paliativos vão muito além do alívio da dor. É uma abordagem que inclui amenizar o sofrimento físico e emocional de pacientes com doenças avançadas, bem como dar suporte a toda a família que acompanha esse indivíduo.

Portanto, a cura deixa de ser prioridade, a morte é vista como um processo natural e o foco passa a ser a pessoa, e não a doença — o intuito é cuidar do paciente de forma ética e humana ao promover qualidade de vida, aliviar os sintomas da doença e trazer conforto psicológico.

Os cuidados paliativos são indicados para casos de pacientes fragilizados, debilitados, com declínio funcional ou falência orgânica, em que uma intervenção — como o encaminhamento para a UTI, por exemplo — não teria nenhum resultado efetivo e só traria mais sofrimento para o indivíduo e membros da família.

Desse modo, é uma prática em que a equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e terapeutas ocupacionais) devem mudar sua conduta, acolhendo, escutando e ficando ao lado do paciente idoso e seus familiares nesse momento tão delicado.

Por que a abordagem é essencial para os cuidados com idosos?
Os cuidados paliativos na terceira idade são importantes devido ao envelhecimento populacional. Em 2060, o Brasil terá um quarto da população idosa (58,2 milhões de pessoas) e a expectativa de vida ao nascer será de 77,9 anos para os homens e 84,2 para as mulheres segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Esses dados apontam que o país precisa se adequar para atender esses idosos com mais qualidade, pois sabemos que, com o envelhecimento, há um aumento também das doenças crônico-degenerativas.

Dessa forma, é necessário modificar a atenção em relação a esses pacientes e toda a família para que recebam o amparo necessário em casos de doenças que ameaçam a continuidade da vida.

Daí a importância dos cuidados paliativos na terceira idade para reduzir a dor, mal-estar, enjoos, falta de ar, entre outros sintomas de enfermidades mais avançadas. Um exemplo é o paciente em fase terminal de Alzheimer que, em muitos casos, é acometido por pneumonias, problemas cardíacos, renais, derrame, entre outras complicações.

Uma conduta comum é encaminhar esse idoso com problemas respiratórios graves ao hospital (em situações em que ainda não está internado) e de lá para a UTI. Mesmo com poucas chances de sobrevivência, são feitas várias intervenções para "manter a vida" mesmo que isso implique sofrimento desnecessário. Não raro, ele virá a óbito sozinho, sem estar com sua família por perto.

Qual é a relação entre essa prática e a bioética?
A bioética norteia as práticas de cuidado à saúde, estabelecendo o respeito à individualidade e dignidade do ser humano — como a capacidade de a pessoa decidir sobre si mesma no momento da morte. É pautada em 4 princípios que atendem a conduta adotada nos cuidados paliativos. São eles:

  • autonomia — os profissionais de saúde devem respeitar o poder de decisão do paciente e suas individualidades, como cultura e crenças. Dessa maneira, ele não deve ser submetido a nenhum tratamento sem o seu consentimento;
  • beneficência — é dever do profissional de saúde fazer o bem ao paciente, evitando, assim, submetê-lo a intervenções cujo sofrimento será muito maior ao benefício, como em doenças sem possibilidade de reversão;
  • não maleficência — deve-se evitar procedimentos que causem dano ao paciente ou desrespeitem sua dignidade como pessoa;
  • justiça — é um direito dos pacientes terem suas necessidades de saúde atendidas. No entanto, esse princípio não pode prevalecer sobre os anteriores no caso de pacientes em estado crítico.

Como é a realidade no Brasil quando se trata de cuidados paliativos?
Por aqui, ainda há carência de profissionais especializados em cuidados paliativos. Em um estudo, de 2015, da consultoria Economist Intelligence Unit, que avaliou tratamentos paliativos para pacientes em estado terminal, o Brasil está em antepenúltimo lugar em um ranking de 40 países — ficou à frente apenas de Uganda e Índia. A lista foi encabeçada por Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia.

Em 2014, foi divulgado um mapeamento global que indica que apenas uma em cada 10 pessoas no mundo tem acesso aos cuidados paliativos. A pesquisa consta no documento Atlas Global de Cuidados Paliativos no Final da Vida, da Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com o Worldwide Palliative Care Alliance (WPCA).

O levantamento também revelou que somente em 20 países há sistema adequado para essa prática — lista que não inclui o Brasil.

Importância de buscar qualificação
É fundamental que médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde que queiram realizar essa prática busquem capacitação de qualidade. A dica é realizar cursos de pós-graduação voltados para essa forma diferenciada e mais humana de atendimento, para que estejam aptos a lidar com pacientes em situações de dor, sofrimento e morte.

Os cuidados paliativos na terceira idade devem ser a abordagem adotada pelos profissionais de saúde para enfermidades mais avançadas. A equipe multidisciplinar precisa informar os familiares sobre essa prática para que a condução terapêutica acolha esse paciente da melhor forma possível — proporcionando conforto físico e psicológico.

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